Com marcas desatualizadas, a Kraft Heinz perdeu bilhões. E agora?

Em fevereiro de 2017, a Kraft Heinz atravessou o Oceano Atlântico com uma audaciosa oferta de US$ 143 bilhões pela Unilever, uma gigante sonolenta que, segundo argumentava a Kraft, poderia ser estimulada com uma boa dose de corte dos custos e uma poda do portfólio.
Embora a proposta não solicitada tenha sido rapidamente descartada diante da forte oposição do alvo, ela deixou a Unilever devidamente agitada, e a empresa passou a empreender uma reformulação, eliminando ativos de baixo desempenho e aprimorando seu foco no valor para os acionistas.
Dois anos depois, o jogo virou. Na quinta-feira, a Kraft Heinz realizou uma baixa contábil de US$ 15,4 bilhões, admitindo de modo impressionante que algumas de suas marcas mais famosas não conseguiram acompanhar o ritmo das mudanças nas preferências dos consumidores. Em contrapartida, a Unilever e seus pares europeus Nestlé e Danone já tomaram medidas para evitar um destino semelhante, concentrando-se em novas marcas de nicho e alternativas mais saudáveis ao açúcar, à carne e aos alimentos embalados.

Alimentos com propósito

A suíça Nestlé, por exemplo, abandonou o negócio de confeitaria nos EUA e, na semana passada, colocou à venda sua unidade de frios Herta. A Unilever está empenhada em desenvolver o que chama de marcas “com propósito”, que promovem a saúde e protegem o meio ambiente, como uma nova linha de sorvetes com sabores pós-modernos como chai com açafrão-da-terra e canela, enquanto vende ativos problemáticos, como as unidades de margarina e pastinhas de untar. A Danone fez uma grande aposta no iogurte vegano com a aquisição da WhiteWave Foods, por US$ 10 bilhões, há alguns anos.
Embora ainda haja muito chocolate e lanches gordurosos por aí, as grandes empresas de alimentos na Europa adotaram como missão fundamental adaptar-se aos consumidores que gostam de couve e vitaminas e que evitam comidas gordurosas, salgadas, açucaradas ou que já não sejam condizentes com seus valores éticos e de saúde. Esta é uma lição dolorosa para a Kraft Heinz, que perdeu mais de 20 por cento de seu valor de mercado depois que os investidores puniram brutalmente as ações.
“A Kraft Heinz tinha um modelo muito aquisitivo e precisava alimentá-lo”, disse Duncan Fox, analista da Bloomberg Intelligence. “Mas eles têm sido lentos na inovação, apostaram nas tendências erradas e ficaram por fora de tudo.”

Corte de custos

Durante anos, a Kraft Heinz construiu uma máquina formidável confiando no que faz de melhor: eliminar custos indiretos, muitas vezes em ativos que ela engoliu. Formada em uma fusão orquestrada em 2015 pela Berkshire Hathaway, de Warren Buffett, e pela empresa de private equity 3G Capital, sua carteira controladora inclui participações na cervejaria Anheuser-Busch InBev, que também teve problemas para encontrar bolsões de crescimento e reduziu seu pagamento para os investidores no ano passado.
Ao longo do processo de eliminação de custos da Kraft Heinz, algo se perdeu – as marcas começaram a parecer desatualizadas ou desconectadas das tendências de consumo, do queijo processado às carnes e bebidas açucaradas. Embora a empresa recentemente tenha tomado algumas medidas para seguir o ritmo das marcas preocupadas com a saúde, como a compra da fabricante de ketchup orgânico Primal Kitchen por US$ 200 milhões, a grande baixa contábil que provocou uma perda igualmente grande mostrou que essas iniciativas foram insuficientes e chegaram tarde demais.
“Os problemas que a Kraft Heinz está enfrentando são específicos da empresa, porque a companhia implementou o modelo de orçamento com base zero durante vários anos, que é usado sistematicamente pela 3G”, escreveu Alain Oberhuber, analista do MainFirst Bank, em uma nota, na que afirmou que o portfólio de produtos é “medíocre em comparação com o de seus pares”.
Por Exame – Carol Matlack e Corinne Gretler, da Bloomberg via Varejo ESPM

Consumidores voltam a comprar produtos de marcas premium

Se a crise econômica e a queda na renda levaram o consumidor a deixar de lado suas preferências no supermercado, em função do orçamento reduzido, a comparação em termos de qualidade tem levado os produtos de marcas líderes de volta aos carrinhos de compras do público, que tem ido com mais frequência aos estabelecimentos. Essas são tendências demonstradas em sondagem realizada pelo Sincovaga (Sindicato do Comércio Varejista de Gêneros Alimentícios do Estado de S. Paulo) em todas as regiões da capital.
O levantamento mostrou que 69,6% dos consumidores entrevistados experimentaram outras marcas de produtos no supermercado, exceto as líderes, nos últimos seis meses. As categorias em que houve mais marcas substituídas foram higiene e limpeza (87,7%) e mercearia (65,8%), seguidas por laticínios (58,9%). O preço foi a maior motivação para essa mudança de hábito, na opinião de 84,5% dos consumidores.
Essa tendência já era percebida na pesquisa realizada em fevereiro de 2016, quando 35,8% dos consumidores entrevistados à época afirmaram não se importar com marcas, mas sim com preços mais baixos, enquanto 27,5% informaram que tinham marcas de preferência, porém já haviam aberto mão delas em razão dos preços.
Entretanto, a recente sondagem mostra que este movimento está tomando o rumo contrário, pois 66,2% dos entrevistados disseram já ter voltado a consumir as marcas premium, a maioria do setor de higiene e limpeza (68,1%), seguido por mercearia e laticínios (44,7% cada) e bebidas (23,4%).
Na sondagem anterior (fevereiro de 2016), a maior resistência dos consumidores era na troca de marcas do setor de alimentos (44,6%), seguido por higiene pessoal (15,2%), limpeza (9,8%) e bebidas (8,3%).
Mas se o preço foi a maior motivação para a troca de marcas há pouco mais de um ano, a qualidade tem trazido os consumidores de volta às marcas premium do mercado. Para 78,7% dos clientes pesquisados pelo sindicato, a melhor qualidade desses itens foi a vantagem mais considerada, seguida por preço mais atraente (8,5%), o que pode evidenciar uma parceria maior entre o varejo e a indústria, e o custo-benefício (6,4%).
A maioria dos pesquisados consulta preços antes de ir ao supermercado (66,7%), utilizando principalmente folhetos (63,2%), internet (39,7%) e anúncios de TV (11,8%) para tomar suas decisões. Dos formatos de lojas mais utilizados, a maioria opta pelos supermercados (31,4%), seguidos pelos atacarejos (22,5%), hipermercados (20,6%); e lojas de vizinhança de grandes marcas e mercadinhos de bairro, cada um com 12,7% das respostas.
Quando avaliaram o que preferem nos diferentes varejistas, conveniência (tempo) e preço receberam a maior quantidade de notas altas no grau de importância. Todavia, atendimento, sortimento e qualidade dos produtos não foram considerados irrelevantes.
A pesquisa incluiu também o número de vezes em que os consumidores realizam suas compras ao longo do mês. A maioria dos consumidores entrevistados (38,2%) afirmou ir uma vez por semana ao supermercado, seguidos por duas vezes por semana e uma vez por mês, com 24,5% das respostas cada uma. 12,7% vão mais de duas vezes por semana ao supermercado.
Este aumento de frequência denota por um lado a diminuição por parte do público do hábito das compras de mês, assim como oferece aos varejistas oportunidades de desenvolver estratégias de promoção. Nesse sentido, adquirir apenas o que necessita para a semana foi a opção de 35,3% dos respondentes, seguida pelo hábito de aproveitar promoções e planejar as compras para o mês, ambas as respostas com 26,5%, enquanto 11,8% adquirem apenas o que precisa para um ou dois dias.
(Por Mercado&Consumo via Varejo ESPM)

O caminho sem volta do crescimento das marcas próprias no varejo

No ano passado, na Europa, as marcas próprias de varejo alcançaram sua maior participação histórica de mercado no setor de alimentos. Em Portugal, representam 41%, na Alemanha, 45%, e, na Inglaterra, 46% do total das vendas do setor.
Nos formatos de alimentos hard discount, o que mais cresce no mercado internacional, as marcas próprias dominam, pois são a sustentação do modelo. Numa Lidl representam 90% das vendas e na Aldi não é muito diferente disso.
Nos Estados Unidos, cresceram 3,2% no último trimestre de 2017, enquanto as chamadas marcas nacionais, decresceram 0,5%.  Estima-se que, nos próximos anos, irão representar 25% de tudo que se vende nos supermercados naquele mercado.
Isso na área de alimentos.
No Brasil, estima-se que as marcas próprias representem entre 6,5 e 7% nesse setor, muito abaixo da média de países mais maduros e concentrados, mas, sem dúvida, estão fadadas ao aumento nos próximos anos pelas estratégias anunciadas pelos líderes Carrefour, Pão de Açúcar, Walmart e vários outros.
Em outros setores, especialmente os ligados à confecção e moda, os principais conglomerados globais praticamente operam 100% com marcas próprias. Zara, H&M, Primark e Uniqlo são exemplos claros. Mas Riachuelo, Renner, C&A e Marisa, no Brasil, vão nessa mesma direção.
Em verdade, todo o negócio de moda massificada no mundo foi transformado pela estratégia de integração da cadeia que termina com a presença dominante das marcas próprias na ponta do varejo.
E, as marcas próprias avançam nos setores de farmácias e drogarias, material de construção, artigos de papelaria e chegam com força também no canal digital.
A Amazon lançou há poucos anos suas marcas próprias e vem expandindo a participação em sua linha de moda, confecção, artigos para o lar ,até alimentação para cães e pilhas e bateriais, onde sua marca Amazon Basics já representa 13% de suas vendas.

As razões da transformação

A estratégia das marcas próprias foi desenvolvida pelos conglomerados de varejo, em especial nos alimentos, em busca da melhoria da rentabilidade num mercado cada vez mais competitivo.
Os varejistas passaram a se envolver com o desenvolvimento, planejamento e gestão das marcas dos produtos usando uma extensa rede de empresas de serviços e indústrias para produzir e distribuir esses itens, condição fundamental para melhorar sua rentabilidade.
A rentabilidade líquida final média de uma rede de supermercados nos Estados Unidos gira em torno de 1,5% e, com as marcas próprias, essas redes podem aumentar a rentabilidade bruta entre 25 e 30%, configurando uma realidade diferente, num cenário de crescente pressão e de consumidores em permanente busca de mais por menos.
Das estratégias básicas de aumento da participação das marcas próprias nos negócios existentes surgiram modelos mais disruptivos como os hard discounters e as redes massificadas de moda, para quem o modelo se apoia exclusivamente na integração da cadeia para chegarem de forma mais competitiva e diferenciada aos consumidores finais.
E o cenário não deixa muitas dúvidas. São exatamente essas redes as que mais crescem no mundo e no Brasil, consolidando mercados e contribuindo para o aumento da participação das marcas próprias no varejo.
O exemplo se espalha e estimula outros segmentos e empresas a trilharem o mesmo caminho, contribuindo para sua disseminação e expansão.
As organizações de varejo têm estruturado de forma cada vez mais estratégica, tecnológica e profissional sua atuação nessa área, integrando a ampla base de dados que dispõem a partir do monitoramento do comportamento de seus consumidores em suas lojas físicas e digitais.
Dessa forma, convertem a informação tratatada e preditiva num decisivo ativo estratégico que viabiliza a melhoria da rentabilidade, o crescimento das vendas e da participação das marcas próprias, acelerando a consolidação de mercado.
Tão racionalmente e simples assim.
(Por Mercado&Consumo via Varejo ESPM)